domingo, 28 de fevereiro de 2010

Capítulo 1- O milagre

Senhores, todo homem tem que ter um grande amor. Independente de sexo. Nós precisamos de alguém ao nosso lado. Encontrei minha flor. E, juntos, caminhamos por muitos lugares. Agora mesmo, ocorre-me um dia em que ajudei um cego. Fiz com que ele enxergasse. Sim, fi-lo enxergar. 

Sabe, estava em uma rua, cantarolando sobre o amor.  Após terminar meu discurso, uma senhora magra e pequena com olhos cansados veio até mim, pegou minhas mãos e disse:

- Muito lindo o se discurso... Você é um profeta, não?

- Sim... Meu pai chamou-me para esta empreitada e procuro fazer renascer o amor, a flor esquecida, no coração das pessoas.

- Sus palavras me inspiraram muito. Porém gostaria que o senhor ajudasse meu filho. Ele ficou cego e não enxerga mais a vida...

- Com todo o prazer senhora... Leve-me até lá e no caminho conte o que aconteceu.

Então fomos, eu e Vera, juntamente com a senhora. Ela explicou que seu filho era muito ativo. Gostava de esportes, diversão e era dotado de uma alegria inspiradora. Porém perdera a visão em um acidente de carro, quer dizer, fazendo alpinismo... Bom, não lembro mais, desculpem a falha, minha memória é mais velha que eu. Lembro que, após ter perdido a visão, ele não saia de seu quarto. Ao chegarmos à sua casa, pedi a senhora que nos servisse um cafezinho, pois não comíamos há muito tempo.

- Bom como você se chama?

- Maria de Lourdes Goulart. E o senhor e sua esposa?

- Bom, podes me chamar apenas de Monge Peregrino.

- E eu sou a Vera. Aliás, sua casa é muito confortável. Simples, mas rica em sua simplicidade. Acho que esse sentimento bom vem da senhora.

- Minha filha, não fale assim... Procuro, apenas fazer minha parte nesse mundo. Ajudo muitas pessoas por ajudar, melhor dizendo, para ir pro céu. Não quero reconhecimento dos homens, mas de Deus.

- Então a senhora irá pro céu, tenha certeza. Pois tu não te promoves em cima disso, e nem o faz com essa intenção. – falei tentando passar, através do meu olhar, todo o amor possível.

- Bom vou levar-lhes até meu filho.

A senhora levantou-se e me chamou. Caminhamos por um corredor, a casa era pequena. Logo chegamos ao quarto. Ela abriu a porta e acendeu a luz. Vi na cama um menino forte, com porte atlético, estilo bonitão.  Entrei no quarto e a senhora fechou-a, nos deixando a sós. Fiquei uns segundos fitando o garoto, acho que deveria ter 20 ou 21 anos. Cada vez mais, acreditava que ele iria se recuperar. De repente, cortando o silêncio, ele falou:

- Você que é o famoso monge?

- Sim.

- Poderia me curar? Não posso ser cego. Não consigo saber o que se passa. Minha vida acabou!

- Meu filho, se você pensa que sua vida acabou, pois não consegue vencer essa adversidade, então ela acabará. Sabe, somos dotados de algo chamado adaptação. Nós, meros seres humanos, temos o dom de nos adaptar e vencer as adversidades. Conforme-se, pois a vida está tentando te mostrar algo. Ela está te ensinando. E este é o seu destino. Porém se pensares dessa maneira já estais morto.

- Mas como poderei viver sem enxergar? Como saberei se a mulher com que estou é bonita ou não? Como irei ler?

- Olha, acho que pensas que estamos na idade média... Já temos a linguagem braile, cachorro guia, entre outras coisas. Além do mais, o que importa a beleza de uma menina?

- Importa muito! Poxa... Eu sempre fui conhecido por andar com beldades, namorar beldades. E agora? Não posso ficar com feias!

- Mas porque filho? Porque a beleza tem essa conotação no teu coração?

- Porque dá prazer andar com mulheres lindas.Algumas são chatas, mas não me importo com isso.- Respondeu ele levantando-se, de forma a ficar sentado na cama.

- Saiba que quem vive de aparências e não de sentimentos terá lembranças vagas e superficiais. De modo, há tortura-se todas as noites. Temos que buscar a companhia de quem nos ama não de quem é bonito. Pois isso pouco acrescenta nas nossas relações. Atitudes dignas é que nos fazem ter amigos. – Peguei na mão dele e comecei a falar em um tom mais brando e leve, mas com firmeza e acreditando no que dizia-Você irá aprender, agora, o quanto a beleza não importa. Porém devo te contar uma história.

- Sou todo ouvidos. – respondeu dando toda sua atenção a minhas palavras.

- Havia, em uma cidade perdida, um menino chamado Ray. Ele era feliz, brincava todos os dias com seus amigos e seu irmão. Porém uma doença o acometeu, deixando-o cego. Ele sentira o mesmo que tu: Medo. Sua mãe, porém, não o ajudava. Deixava-o caminhar sozinho e fazer as coisas. Ele foi se acostumando com sua situação. Um dia ouviu um som lindo e lírico vindo das proximidades de sua casa. Era um velho afinador de pianos, que dedilhava em um piano que acabara de afinar. O menino seguiu o som e chegando à oficina do velho, descobriu o que seria a maior paixão de sua vida, a música. O afinador lhe ensinou a tocar. Mal sabia ele que estava criando um gênio da música. Mais tarde ficaria conhecido como Ray Charles. Movia-se pelo som. Não usava nada, nem bengala, nem cão.

- Não sabia disso. Sério?

- Aham, vi num filme.

- Ah... - esbravejou decepcionado.

- O que foi? O importante é a mensagem não o meio com que ela é passada. E essa é a mensagem que quero lhe trazer. Há muitas possibilidades para você agora. Perdesses a visão, mas ainda tens o paladar, o tato e a audição. Pior seria se tivesse perdido a vida. Aí sim estarias pego. Acredite meu amigo.  Eu acredito em você. Porém tudo depende do teu alterego. Se continuares com esse pensamento, aqui será o fim da linha. -Aproximei-me dele e dei um abraço forte, passando todo meu amor, ele me abraçou firme e começou a chorar.

- Você tem razão monge, devo enxergar as portas que se abriram não as que se fecharam.

- Sim, meu amigo.  Acredite em você e deixe aflorar o amor!

E assim terminei o dia. Partimos Vera e eu, da casa para outro rumo. A senhora nos agradeceu muito por termos ajudado seu filho.  Saímos com um ar de alegria. Senti que havia mudado o pensamento do garoto.

 Aprendi muito nesse dia, meus poucos leitores. Acho que percebi o quanto somos cegos e não enxergamos a vida. Somos cegos que enxergam. Eu diria cegos de coração. Talvez se sentíssemos mais o momento e racionalizássemos menos, seríamos mais felizes.

Anos mais tarde, vi meu amigo nas paraolimpíadas correndo. Fiquei muito feliz. Está aí um exemplo de pessoa que enxerga o mundo. Espero ter-lhes ajudado, poucos leitores de minhas histórias. Agora o médico e o medo se aproximam. Espero trazer mais histórias com mais freqüências as minhas páginas, antes que me levem deste mundo.  Até a próxima memória.

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